27 de janeiro de 2015

O FIM DO ROMANCE E A LUTA PELA POSTERIDADE.

Ao lermos um pouco da história de Napoleão Bonaparte, grande estrategista militar, em seus últimos dias de vida, o que mais nos toca, na leitura do seu memorial, é uma frase no prefácio do livro. Não é exatamente uma reflexão amorosa, mas se presta com perfeição às histórias de amor. 
A frase diz: "tudo que restava a Napoleão, quando decidiu escrever seu relato em Santa Helena, era lutar pela posteridade. Era sua luta mais importante. Mais que Waterloo, mais que Austerlitz, mais que qualquer outra. A luta pela posteridade. As palavras poderiam fazer por Napoleão o que a espada não conseguiria." E fizeram. Napoleão venceu a luta pela posteridade.

Lutar pela posteridade. Às vezes não restam mais opções que essa para o homem e a mulher. É uma situação típica dos finais de caso. O amor já foi derrotado, inapelavelmente derrotado, como Napoleão em Waterloo, e mesmo assim a gente segue cegamente em frente num caminho de sofrimento, angústia, agressões, humilhações. E então perdemos a luta pela posteridade. A imagem que guardamos de um caso de amor que teve tantas coisas sublimes fica irremediavelmente danificada como uma fotografia cortada por uma tesoura.
É preciso ter coragem para reconhecer quando não resta nada. Que a relação, como foi concebida, já não mais existe ou é saudável para os dois. Somos sempre tentados a ir adiante, na esperança caótica e vã de ressuscitar o que está morto. Quantos de nós não impusemos amargor, tristeza e desprazer, a si e ao parceiro, pela ideia fixa de um retorno? Um erro histórico é não dar a oportunidade, que a relação merece, de ocupar um digno e honrado cantinho, reservado ao que passou. Lembranças que poderiam nos aquecer em momentos de frio, pela vida afora, foram destruídas em finais de caso que se estenderam além do que seria razoável. Saber a hora de terminar o romance, em nome da posteridade, talvez seja a forma mais sublime, e mais difícil, de sabedoria amorosa. Admitir que o único porto que resta é o fim da relação exige uma coragem de Napoleão.

Texto: DCM. 
Adaptação: Christiano Santos

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